Santos, a histórica cidade portuária da Baixada Santista, é conhecida como o coração do maior porto da América Latina, responsável por cerca de 27% do comércio exterior brasileiro. Além de sua relevância econômica, Santos encanta com suas praias, como a do Gonzaga, seu centro histórico preservado e uma vibrante cena cultural que atrai visitantes de todo o mundo.
Nos últimos anos, a cidade tem se destacado como o principal ponto de embarque e desembarque de cruzeiros no Brasil, consolidando-se como um hub turístico de primeira grandeza. A temporada de cruzeiros 2024/2025, que se encerrou em 20 de abril de 2025, marcou um recorde histórico, com mais de 1 milhão de passageiros movimentados no Terminal Marítimo Giusfredo Santini (Concais) e um impacto econômico de R$ 1,5 bilhão na economia da Baixada Santista, o maior já registrado no turismo marítimo regional. Esse marco reforça a posição de Santos como líder nacional no setor de cruzeiros e levanta a questão: o turismo, impulsionado pelo recorde de cruzeiros, está realmente transformando a cidade?
O recorde de cruzeiros em Santos reflete o crescimento exponencial do turismo marítimo no Brasil, com 152 escalas de 14 navios, incluindo gigantes como o MSC Grandiosa e o Costa Diadema, que atraíram tanto brasileiros quanto turistas internacionais. A temporada, que começou em 8 de novembro de 2024, trouxe inovações, como o fundeio do Costa Pacífica na orla durante o Réveillon, permitindo que os passageiros assistissem à queima de fogos da cidade, um evento que atraiu 1 milhão de pessoas à costa.
Esse fluxo de visitantes gerou benefícios diretos para hotéis, restaurantes, comércio e serviços turísticos, mas também colocou à prova a infraestrutura da cidade e sua capacidade de gerenciar um turismo de massa sustentável. Segundo a Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Clia Brasil), cada cruzeirista deixa, em média, R$ 813,56 em Santos, cidade de embarque, valor superior aos R$ 639,37 gastos em cidades de escala, destacando o impacto econômico local.
No entanto, o recorde de cruzeiros também traz desafios significativos. O aumento do fluxo turístico pressiona a infraestrutura urbana, como o transporte público e a limpeza das praias, enquanto questões como a preservação do centro histórico e a inclusão de comunidades periféricas na cadeia turística permanecem em debate.
A prefeitura de Santos, em parceria com o Santos Convention & Visitors Bureau e a Secretaria de Empreendedorismo, Economia Criativa e Turismo (Seectur), tem investido em iniciativas como o programa “Santos, Todos a Bordo!”, que promove rotas turísticas e informações multilíngues para cruzeiristas, mas ainda há muito a ser feito para garantir que o turismo beneficie toda a população. Este artigo explora o impacto do recorde de cruzeiros em Santos, analisando como o turismo marítimo está moldando a economia, a infraestrutura e a identidade da cidade, além dos desafios e oportunidades que acompanham essa transformação.

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Impacto Econômico do Recorde de Cruzeiros
Movimentação Bilionária na Baixada Santista
O recorde de cruzeiros na temporada 2024/2025 consolidou Santos como o principal porto de cruzeiros do Brasil, com um impacto econômico de R$ 1,5 bilhão na Baixada Santista, superando os R$ 1 bilhão da temporada anterior. Esse valor reflete não apenas os gastos diretos dos 1,002 milhão de passageiros — entre embarques, desembarques e trânsitos —, mas também os tributos, a movimentação de tripulantes e os custos com combustível e suprimentos.
Segundo o gerente de operações do Concais, Javier Carnevale, a temporada marcou “o maior impacto já registrado no turismo marítimo regional”, com 152 escalas de 14 navios, incluindo sete de operação regular, como o MSC Seaview e o Costa Pacífica, e sete de trânsito internacional, como o Majestic Princess e o Crystal Serenity. O recorde de cruzeiros gerou uma média de R$ 804,2 milhões apenas com os passageiros, com cada cruzeirista gastando, em média, R$ 813,56 na cidade.
Essa injeção econômica beneficiou diversos setores. Hotéis registraram uma ocupação média de 58% em 2024, com picos durante feriados como o Réveillon e o Carnaval, enquanto restaurantes e bares na orla, como os do Gonzaga e da Ponta da Praia, reportaram aumento de 15% no faturamento. O comércio varejista, incluindo lojas de souvenirs e shoppings, também foi impulsionado, com destaque para as compras de artesanato local e produtos regionais.
Além disso, o recorde de cruzeiros criou cerca de 80 mil empregos diretos e indiretos, desde guias turísticos e motoristas até trabalhadores portuários, segundo a Cruise Lines International Association (CLIA). A temporada também atraiu 73,9 mil cruzeiristas em trânsito, dos quais 81% eram brasileiros e 19% estrangeiros, que exploraram atrações como o Museu do Café, o Museu Pelé e o Aquário Municipal, movimentando o turismo cultural.
Emprego e Oportunidades para a Comunidade
O recorde de cruzeiros não apenas gerou receita, mas também abriu portas para a inclusão econômica em Santos. A temporada empregou milhares de moradores em funções temporárias e permanentes, com destaque para jovens de comunidades periféricas, como o Valongo e o Morro São Bento, que foram capacitados como guias turísticos e recepcionistas bilíngues.
Programas como o “Santos, todos a Bordo!” treinaram mais de 200 moradores em 2024 para atender cruzeiristas, oferecendo informações em português, inglês e espanhol, além de promover rotas turísticas que abrangem o centro histórico, a Vila Belmiro e a orla. Essas iniciativas, apoiadas pela Seectur e pelo Santos Convention & Visitors Bureau, fortaleceram a economia local e deram visibilidade a pequenos negócios, como feiras de artesanato e quiosques na praia.
Além disso, o recorde de cruzeiros incentivou o empreendedorismo. Moradores abriram novas agências de turismo receptivo, enquanto bares e restaurantes adaptaram seus cardápios para atrair turistas internacionais, oferecendo pratos típicos como o peixe à moda caiçara. A temporada também impulsionou o setor de eventos, com festivais como o Mix Music Boat, a bordo do MSC Seaview, que trouxe artistas como Bell Marques e Léo Santana, atraindo cruzeiristas e visitantes regionais.
No entanto, a concentração de benefícios econômicos em áreas turísticas, como a orla, levanta questões sobre a distribuição equitativa dos ganhos, especialmente em bairros mais afastados, onde o impacto do recorde de cruzeiros é menos perceptível.
Infraestrutura e Sustentabilidade
Melhorias no Porto e no Turismo
O recorde de cruzeiros exigiu investimentos significativos na infraestrutura de Santos, especialmente no Terminal Concais, que operou 99 dias durante a temporada 2024/2025. O terminal foi modernizado com novos sistemas de check-in, lixeiras ecológicas e sinalização trilíngue, garantindo uma experiência mais fluida para os cruzeiristas.
A Autoridade Portuária de Santos, liderada por Anderson Pomini, anunciou a transferência do terminal para o Parque Valongo, um projeto que prevê dobrar a capacidade para 2 milhões de passageiros por temporada, integrando o porto ao revitalizado centro histórico. Essa iniciativa, apoiada pelo governo federal, inclui a construção de um píer de observação, áreas de lazer e espaços culturais, transformando o Valongo em um novo polo turístico.
A cidade também investiu em ações para receber bem os cruzeiristas. A Seectur implementou Postos de Informações Turísticas (PITs) no Concais, com recepcionistas bilíngues e folhetos com QR codes que direcionam ao portal Turismo Santos, oferecendo detalhes sobre atrações como o Orquidário e a Nova Ponta da Praia. Nos dias de maior movimento, como 29 de novembro e 9 de março, quando três navios atracaram simultaneamente, unidades volantes de atendimento orientaram os 80 mil passageiros em trânsito.
Essas medidas, combinadas com a revitalização de pontos turísticos, como o Museu do Café e a Bolsa Oficial do Café, fortaleceram a imagem de Santos como um destino preparado para o turismo de massa. No entanto, o recorde de cruzeiros expôs gargalos, como a saturação do transporte público e a necessidade de mais estacionamentos próximos ao porto.

Desafios de Sustentabilidade
O recorde de cruzeiros trouxe benefícios econômicos, mas também desafios ambientais. O aumento do fluxo de turistas gerou mais resíduos nas praias e no centro histórico, exigindo mutirões de limpeza e campanhas de conscientização, como as promovidas pelo Instituto EcoFaxina.
A prefeitura intensificou a coleta seletiva na orla e instalou lixeiras ecológicas no Concais, mas a gestão de resíduos ainda é um obstáculo, especialmente durante picos de movimento, como o Réveillon. Além disso, o tráfego de navios no porto levantou preocupações sobre a poluição marítima, com estudos apontando emissões de CO2 e descarte de resíduos por algumas embarcações.
Para enfrentar esses desafios, Santos está investindo em turismo sustentável. A temporada 2024/2025 incluiu iniciativas como o uso de energia solar no Concais e a capacitação de guias para promover o turismo responsável, incentivando os cruzeiristas a respeitarem a biodiversidade local, como a fauna do Aquário Municipal.
O Parque Valongo, com sua infraestrutura moderna, será projetado com materiais reciclados e sistemas de captação de água da chuva, alinhando-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Apesar desses avanços, o recorde de cruzeiros exige um equilíbrio delicado entre crescimento turístico e preservação ambiental, especialmente em áreas sensíveis como a Lagoa da Saudade e o Morro da Asa Delta, que sofrem com o aumento do tráfego turístico.
Transformação Cultural e Social
Fortalecendo a Identidade Santista
O recorde de cruzeiros está redefinindo a identidade de Santos como um destino turístico global, reforçando seu papel como porta de entrada para a Baixada Santista. A temporada 2024/2025 destacou a riqueza cultural da cidade, com cruzeiristas explorando o centro histórico, que abriga construções neoclássicas e barrocas, como a Bolsa Oficial do Café, e atrações modernas, como o Museu Pelé, que celebra o legado do Santos Futebol Clube.
Eventos como o Réveillon com o Costa Pacifica na orla e o Mix Music Boat fortaleceram a imagem de Santos como uma cidade vibrante, capaz de combinar tradição e modernidade. A presença de 19% de cruzeiristas estrangeiros, vindos de países como Argentina, Uruguai e Estados Unidos, também promoveu um intercâmbio cultural, com visitantes encantados pela gastronomia caiçara e pela hospitalidade santista.
A comunidade local tem se apropriado do recorde de cruzeiros para valorizar sua história. Escolas municipais organizaram visitas guiadas ao porto, enquanto artistas locais realizaram exposições e apresentações no Concais, destacando a cultura caiçara e a influência do café na formação da cidade.
Essas iniciativas, apoiadas pela Seectur, fortaleceram o orgulho santista e incentivaram os moradores a se engajarem no turismo, seja como guias, artesãos ou anfitriões. No entanto, o foco no turismo marítimo levantou preocupações sobre a preservação de tradições locais, com alguns moradores temendo que a cidade se torne excessivamente comercializada, perdendo sua autenticidade.
Inclusão e Desafios Sociais
O recorde de cruzeiros trouxe oportunidades de inclusão social, mas também expôs desigualdades. A capacitação de moradores de bairros periféricos, como o Paquetá e o Rádio Clube, para trabalhar no turismo criou perspectivas de renda, especialmente para jovens e mulheres.
Programas de treinamento ensinaram habilidades como atendimento ao cliente e idiomas, permitindo que esses trabalhadores se beneficiassem diretamente do recorde de cruzeiros. Além disso, a temporada gerou empregos em setores como limpeza, segurança e logística, empregando milhares de santistas em funções essenciais para o funcionamento do Concais.
No entanto, nem todos os moradores sentem os benefícios do recorde de cruzeiros. Bairros afastados do centro e da orla, como o Morro da Nova Cintra, recebem poucos investimentos turísticos, enquanto o aumento do custo de vida em áreas como o Gonzaga dificulta o acesso de trabalhadores de baixa renda.
Além disso, o fluxo intenso de cruzeiristas sobrecarregou serviços públicos, como o transporte municipal, que enfrenta lotação nos horários de pico. Para que o recorde de cruzeiros transforme Santos de forma equitativa, é necessário ampliar a distribuição dos benefícios econômicos e investir em infraestrutura nas periferias, garantindo que o turismo seja uma força de inclusão, e não de exclusão.

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Conclusão
O recorde de cruzeiros na temporada 2024/2025 marcou um capítulo histórico para Santos, consolidando a cidade como o principal destino de cruzeiros do Brasil e gerando um impacto econômico sem precedentes de R$ 1,5 bilhão.
Esse marco, impulsionado por mais de 1 milhão de passageiros e 152 escalas de navios, trouxe prosperidade para a Baixada Santista, beneficiando hotéis, restaurantes, comércio e serviços turísticos, além de criar cerca de 80 mil empregos diretos e indiretos. Iniciativas como o programa “Santos, Todos a Bordo!”, a modernização do Terminal Concais e o projeto do Parque Valongo demonstram o compromisso da cidade em aproveitar o recorde de cruzeiros para fortalecer sua infraestrutura e promover o turismo sustentável. A presença de cruzeiristas brasileiros e estrangeiros também reforçou a identidade cultural de Santos, destacando sua história, gastronomia e hospitalidade.
No entanto, o recorde de cruzeiros também expôs desafios que precisam ser enfrentados para que o turismo transforme Santos de maneira equitativa e sustentável. A pressão sobre a infraestrutura urbana, como o transporte público e a gestão de resíduos, exige investimentos contínuos, enquanto a poluição marítima e o impacto ambiental do tráfego de navios demandam medidas rigorosas de sustentabilidade.
Além disso, a concentração de benefícios econômicos em áreas turísticas, como a orla, destaca a necessidade de incluir bairros periféricos na cadeia do turismo, garantindo que os ganhos cheguem a todos os santistas. A preservação da autenticidade cultural, ameaçada pela comercialização excessiva, é outro ponto crítico que requer equilíbrio entre crescimento turístico e respeito às tradições locais.
O recorde de cruzeiros posiciona Santos em um momento de inflexão, com o potencial de se tornar um modelo de turismo marítimo na América Latina. O projeto do Parque Valongo, que integrará o porto ao revitalizado centro histórico, promete dobrar a capacidade do terminal para 2 milhões de passageiros, atraindo ainda mais visitantes e investimentos. A longo prazo, o recorde de cruzeiros pode inspirar outras cidades portuárias brasileiras a investir no turismo marítimo, mostrando que é possível conciliar crescimento econômico com sustentabilidade e inclusão.
Para os santistas, o recorde de cruzeiros representa uma oportunidade de redefinir o futuro da cidade, transformando-a em um destino que celebra sua história, acolhe visitantes de todo o mundo e oferece qualidade de vida para todos os seus moradores. Com planejamento, transparência e engajamento comunitário, Santos pode transformar o recorde de cruzeiros em um legado duradouro de prosperidade e conexão global.