Santos, uma das cidades mais emblemáticas do litoral paulista, é conhecida não apenas por suas praias deslumbrantes e pelo porto que movimenta a economia brasileira, mas também por ser o berço ou o lar de figuras históricas que deixaram marcas profundas na cultura, política, ciência e sociedade do Brasil. Entre elas, destaca-se José Bonifácio de Andrada e Silva, o “Patriarca da Independência”, mas a lista vai além, abrangendo nomes que moldaram diferentes áreas do conhecimento e da vida pública. Neste artigo, exploraremos a trajetória de algumas dessas personalidades que nasceram ou cresceram em Santos, revelando como a cidade contribuiu para suas histórias e legados. Prepare-se para uma viagem no tempo que celebra a riqueza humana desse município.
José Bonifácio de Andrada e Silva: O Patriarca da Independência
Nenhum artigo sobre figuras célebres de Santos estaria completo sem começar por José Bonifácio de Andrada e Silva, nascido em 13 de junho de 1763, em uma casa simples no centro da cidade. Filho de uma família abastada, com raízes na aristocracia portuguesa, Bonifácio cresceu em um ambiente privilegiado que lhe proporcionou uma educação sólida desde cedo. Aos 14 anos, mudou-se para São Paulo para estudar, mas foi em Santos que passou sua infância e juventude, absorvendo as influências de uma vila portuária em crescimento.
Aos 20 anos, Bonifácio partiu para Portugal, onde se formou em Direito e Filosofia Natural na Universidade de Coimbra. Sua carreira científica o levou a viajar pela Europa, estudar mineralogia, química e história natural, e a se tornar uma figura respeitada na Academia de Ciências de Lisboa. Ele descreveu minerais até então desconhecidos, como a petalita e o espodumênio, que mais tarde revelariam o lítio – um elemento essencial para a tecnologia moderna, presente em baterias de celulares e outros dispositivos.
De volta ao Brasil em 1819, após mais de três décadas na Europa, Bonifácio encontrou um país em transformação. Tornou-se uma peça-chave na luta pela independência, aconselhando Dom Pedro I a romper com Portugal e articulando estratégias para manter a unidade territorial do Brasil. Suas ideias progressistas, como a abolição gradual da escravatura e a preservação ambiental, estavam à frente de seu tempo, embora muitas vezes tenham sido limitadas por sua visão conservadora ligada às elites rurais.
Bonifácio faleceu em 1838, em Niterói, mas seu legado permanece vivo em Santos. A cidade o homenageia com o Palácio José Bonifácio, sede da prefeitura, e com uma estátua “instagramável” na Praça Barão do Rio Branco, inaugurada em 2022, no bicentenário da Independência. Ele é, sem dúvida, o filho mais ilustre de Santos, um símbolo de inteligência e patriotismo.
Martim Francisco Ribeiro de Andrada: O Irmão Revolucionário
Outro nome de peso ligado a Santos é Martim Francisco Ribeiro de Andrada, irmão mais novo de José Bonifácio, nascido em 1775 na mesma cidade. Embora menos conhecido que o “Patriarca”, Martim teve um papel significativo no processo de independência e na formação do Brasil como nação. Criado em Santos ao lado de seus irmãos, ele também seguiu para Portugal para estudar, formando-se em Matemática e Filosofia Natural em Coimbra.
De volta ao Brasil, Martim tornou-se diretor das minas e matas da Capitania de São Paulo, uma posição que o colocou em contato direto com José Bonifácio quando este retornou da Europa. Juntos, os irmãos Andrada formaram uma aliança poderosa na política brasileira. Martim foi ministro da Fazenda no governo de Dom Pedro I, implementando medidas econômicas para estabilizar o país recém-independente. Sua atuação, porém, foi marcada por atritos com o imperador, o que levou à sua demissão em 1823, junto com José Bonifácio.
Após o rompimento com Dom Pedro, Martim se juntou aos irmãos na oposição, fundando o jornal Tamoio, que criticava abertamente o governo. Ele passou anos exilado na França, mas retornou ao Brasil e continuou a influenciar a política até sua morte em 1844. Em Santos, seu legado é lembrado na Praça da Independência, onde uma estátua homenageia os irmãos Andrada, celebrando sua contribuição para a história nacional.
Antônio Carlos Ribeiro de Andrada: O Estadista da Família
O terceiro irmão Andrada, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, também nasceu em Santos, em 1773, completando o trio que ficou conhecido como “os Andradas”. Assim como José Bonifácio e Martim Francisco, Antônio Carlos foi educado em Coimbra, onde se formou em Direito. Sua trajetória, no entanto, tomou um rumo mais político que científico, destacando-se como líder na Assembleia Constituinte de 1823.
Antônio Carlos defendia um Brasil independente com uma monarquia constitucional, mas suas ideias muitas vezes entraram em choque com o autoritarismo de Dom Pedro I. Após a dissolução da Constituinte, ele foi preso e exilado junto com os irmãos. De volta ao Brasil, continuou sua carreira política, sendo eleito deputado e senador, sempre lutando por reformas e pela consolidação das instituições nacionais. Faleceu em 1845, deixando um legado de dedicação à causa pública.
Os três irmãos Andrada, nascidos em Santos, formam um exemplo raro de uma família que, unida, mudou os rumos de um país. A cidade, com sua atmosfera de porto e comércio, parece ter inspirado neles um senso de pragmatismo e visão global que os destacou na história.
Benedito Calixto: O Pintor da História Brasileira
Mudando de esfera, mas permanecendo em Santos, encontramos Benedito Calixto de Jesus, um dos maiores artistas plásticos do Brasil, nascido em 14 de outubro de 1853, em Itanhaém, mas criado em Santos desde a infância. Filho de um capitão da Marinha, Calixto cresceu em um ambiente ligado ao mar e à vida portuária, o que influenciou profundamente sua obra.
Autodidata em grande parte de sua formação, ele começou a pintar paisagens e retratos ainda jovem. Aos 19 anos, mudou-se para São Paulo, mas foi em Santos que desenvolveu sua paixão pela história e pela arte. Suas pinturas retratam cenas do passado colonial brasileiro, como a fundação de São Vicente, e figuras históricas, incluindo José Bonifácio, cujo retrato integra o acervo do Museu Paulista.
Calixto também se destacou na pintura de azulejos, levando sua marca em monumentos como o obelisco do Largo da Memória, em São Paulo, e nas construções do Caminho do Mar, que liga Santos à capital. Ele criou os brasões da cidade de São Paulo (1917) e do estado (1932), consolidando seu papel como um cronista visual da identidade brasileira. Faleceu em 1927, mas suas obras continuam a encantar e educar gerações sobre o passado do país.
Visconde de São Leopoldo: O Pioneiro da Educação Jurídica

José Feliciano Fernandes Pinheiro, mais conhecido como Visconde de São Leopoldo, nasceu em Santos em 1774. Embora sua vida adulta tenha se desenrolado em outras regiões, como o Rio Grande do Sul, onde foi presidente da província, suas raízes santistas são um ponto de orgulho para a cidade. Filho de uma família tradicional, ele estudou Direito em Coimbra e retornou ao Brasil em 1822, logo após a Independência.
Na Assembleia Constituinte de 1823, o Visconde propôs a criação dos primeiros cursos jurídicos no Brasil, uma iniciativa que resultou na fundação das faculdades de Direito de São Paulo e Olinda em 1827. Sua visão foi fundamental para a formação de uma elite intelectual no país, essencial para a administração do Império. Além disso, ele atuou como senador e ministro da Justiça, sempre defendendo a educação como pilar do progresso.
Em Santos, o Visconde é homenageado com uma placa na Avenida Visconde de São Leopoldo, um reconhecimento de sua contribuição para a história nacional. Sua trajetória reflete a influência de Santos como um celeiro de pensadores e estadistas.
Tamandaré: O Herói dos Mares
Joaquim Marques Lisboa, o Almirante Tamandaré, nasceu em Rio Grande, no Rio Grande do Sul, em 1807, mas passou parte significativa de sua vida em Santos, onde se envolveu com a Marinha e consolidou sua ligação com o mar. Considerado o patrono da Marinha Brasileira, Tamandaré se alistou aos 15 anos e participou das batalhas pela consolidação da Independência, como os combates na Bahia e a perseguição às forças portuguesas.
Sua carreira militar o levou a comandar esquadras em conflitos como a Guerra do Paraguai, onde se destacou por sua bravura e estratégia. Santos, com seu porto estratégico, foi um ponto de referência em sua vida, e hoje a cidade o homenageia com uma estátua na orla, celebrando seu papel como “herói dos mares”. Tamandaré faleceu em 1897, deixando um legado de coragem e patriotismo.
Outras Figuras Notáveis
Além desses nomes, Santos foi lar ou berço de outras personalidades que merecem menção. Plínio Salgado, nascido em São Bento do Sapucaí em 1895, mas criado em Santos, foi um escritor e político que fundou a Ação Integralista Brasileira, influenciando o debate político na primeira metade do século XX. Já o poeta Vicente de Carvalho, nascido em Santos em 1866, ficou conhecido como o “poeta do mar”, com versos que capturam a essência da vida litorânea.
Santos: Um Berço de Talentos

O que torna Santos um lugar tão especial para o surgimento dessas figuras? Talvez seja sua posição geográfica, um porto que conecta o Brasil ao mundo, trazendo ideias e culturas diversas. Ou talvez seja o espírito resiliente de sua gente, moldado pelo mar e pela história. De José Bonifácio a Tamandaré, passando por artistas como Benedito Calixto e estadistas como o Visconde de São Leopoldo, a cidade provou ser um celeiro de mentes brilhantes que ajudaram a construir o Brasil.
Hoje, ao caminhar pelas ruas do Centro Histórico ou visitar o Palácio José Bonifácio, é possível sentir o eco dessas histórias. Santos não é apenas um ponto no mapa; é um palco onde o passado ganha vida através de seus filhos ilustres. Que tal explorar mais sobre essas figuras e sua cidade natal? A próxima visita a Santos pode revelar muito mais do que belas praias – pode ser uma aula viva de história.
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